Em Marcos 9.33, Jesus faz uma pergunta aos seus discípulos que os fez se calarem: “Que estáveis vós discutindo pelo caminho?”. Eles se calaram, porque pelo caminho tinham discutido entre eles sobre qual deles era o maior (v. 34). Essa mesma discussão é registrada em Lucas 9.46. Jesus sabendo do que se tratava, chama os doze e diz-lhes: “Se alguém quiser ser o primeiro, será o derradeiro de todos e servo de todos” (v. 35), em seguida, toma um menino, ponhe-o junto a si, e diz: “Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me receber a mim, recebe o que me enviou; porque aquele que entre vós todos for o menor, esse mesmo é grande” (Lc 9.48). Esse é o princípio ensinado por Jesus. Ele mesmo deu o exemplo de servidão, quando disse: “”Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mc 10.45).
Creio que este ensino ficou bem claro na mente dos discípulos, mas o impressionante é que parece que faz parte da natureza humana querer dominar, ser grande. Os mesmos discípulos, antes da crucificação do Mestre, voltam a discutir o mesmo assunto. Era a ocasião da páscoa, quando o Mestre instituiu a Ceia. Após ceiarem e ouvirem que um deles era um traídor, ficaram atônitos querendo saber qual deles seria, e ao mesmo tempo houve “contenda” sobre qual deles “parecia” o maior. A resposta do Mestre foi, mais uma vez, clara e objetiva: “Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores. Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve.” (Lc 22.25,26). Jesus deu, outra vez, o exemplo de si mesmo, perguntando a eles, quem era maior? Quem estava à mesa ou quem servia a mesa? Com certeza era quem estava à mesa, mas Jesus não era o que estava à mesa, mas quem servia. Se comparamos essa passagem com João 13, veremos o exemplo maravilhoso do Jesus, quando lavou os pés dos discípulos, numa demonstração de humildade e servidão. Após fazer isso, pergunta-lhes: “Entendeis o que vos tenho feito?” (Jo 13.12). Ele, sendo o Mestre e Senhor havia lavado os pés deles, assim eles também deviam lavar os pés uns dos outros. Não se trata aqui da instituição do “lava-pés”, mas da humildade e sujeição uns outros, do espírito de servidão uns aos outros. Ninguém devia dominar sobre ninguém. Nenhum deles seria maior do que os outros. Isso era coisa dos reis dos gentios, entre eles seria diferente, “o maior seria como o menor, e quem governa como quem serve”. Tão diferente do que vemos nos círculos cristãos hoje!
O apóstolo Paulo ensina esse mesmo princípio: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.” (Fp 2.3). O escritor aos Hebreus também fala da consideração “uns aos outros” (Hb 10.24). Pedro também escreve sobre o assunto, “Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (I Pe 5.5).
A humildade, e não o sentimento de grandeza deve permear a nossa vida. Um crente não deve dominar outro crente, controlar-lhe a vida. Esse não é o princípio de Cristo, mas do mundo! Esse princípio se aplica a todos os discípulos de Jesus, tanto líderes como liderados. Pedro escreve aos pastores: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto” (I Pe 5.2). Interessante Pedro usar a expressão “não por força”, e “nem por torpe ganância”. Geralmente é o que vemos em muitos lugares hoje.
Que Deus nos ajude a seguirmos o caminho da humildade e da servidão!