Minha Assembléia de Deus

Não considero minha igreja perfeita. Nem de longe! Nunca pretendi seja ela a única capaz de conduzir a Deus. Pelo contrário, tenho afirmado repetidas vezes que denominação ou movimento algum pode ter a pretensão de situar-se como Igreja Universal. Esta se constitui de todos os santos, de todos os fiéis, de todos os remidos pelo sangue do Cordeiro, nada importando o rótulo adotado pela comunidade em que militem.

Não digo “amém” ao exclusivismo, que entendo seja pecado, porque reconheço a missão da igreja evangélica, cada qual com suas peculiaridades e sua missão específica, e por isso mesmo defendo o respeito às características de minha Igreja, aos seus traços distintivos, à sua “fisionomia” própria, que a tornaram sui generis.

Apraz-me enfatizar que a minha Assembléia de Deus não é aquela “inventora de males”, acometida de miopia espiritual, capaz, por exemplo da falta de psicologia, é demonstração de desconhecimento de que cada região, de que cada país tem os seus próprios hábitos e costumes, os quais não podem ser simplistamente encarados e agredidos ou modificados sem maior cautela.

Minha Assembléia de Deus não é (nunca foi) aquela que condena os institutos bíblicos, tachando-os de “fábrica de pastores”; entendo que em seminário não se “faz” pastor. Ele é vocacionado por Deus, é chamado mediante o toque do Espírito Santo; contudo, estou convicto de que a incultura é limitadora, a desinformação bitola o raciocínio do homem, o despreparo nos coloca muitas vezes em situação de desigualdade ante aqueles com quem dialogamos (É verdade que o Espírito Santo nos capacita, nos possibilita a superação das limitações humanas, mas não sempre que o obreiro está de tal forma consagrado e disponível nas mãos do Senhor para transpor, pelo sobrenatural, os obstáculos que ele próprio constrói com sua incapacidade).

Minha Assembléia de Deus não é aquela que se perturba com a
ordem, com se fosse imprescindível muito ruído para que Deus possa operar (É certo que as manifestações do Espírito, quando autênticas, não geram escândalos, nem tumultuam o culto ao Senhor, que nosso Deus não é Deus de confusão – e Ele habita entre glorificações e louvores).

Minha Assembléia de Deus não faz proselitismo entre os denominacionais, nem os coloca no rol dos pecadores (Mesmo assim, espontaneamente, eles me procuram e dizem: “Pastor, eu não suporto aqueles cultos frios e formalistas que provocam sono e enfado. Eu quero poder de Deus, quero mais santidade em minha vida. Que devo fazer para mudar de igreja?”). 

Minha Assembléia de Deus não teme a mocidade, não obstrui o caminho dos mais jovens, antes os apóia, os encoraja, os estimula, os aconselha com paciência, ajudando-os no caminho da sua vocação bíblica; intercede em favor das “potestades” para que administrem, legislem e interpretem as leis com equidade e acerto, para que não usem dois pesos e duas medidas, para que não admitam a corrupção, seja ativa, seja passivamente.

Minha Assembléia de Deus não produz libelos contra as oposições, não as aponta como instrumento do demônio, porque ela tem a compreensão de que os que fiscalizam e criticam as autoridades ajudam também a governar e a evitar desmandos, cumprindo importantíssima tarefa, e contribuindo para o aperfeiçoamento do processo democrático.

Minha Assembléia de Deus não volta as costas à sociedade, com timidez nem com repugnância, antes ensina os crentes a serem participantes (até onde a participação venha a comprometer- lhes a imagem e a essência de cristãos verdadeiros), porque ela é concientizada a cumprir sua sagrada missão de “sal da terra” e “luz do mundo”.

Minha Assembléia de Deus não tolera a adoção de privilégios em favor dos ricos, brancos, cultos e “importantes”, contra os simples e humildes, lembrada de que Jesus teve especial carinho pelos pequeninos, pelos mais pobres, pelos exploradores e deserdados da terra.

Minha Assembléia de Deus não prega a luta de classes, porque a filosofia marxista é essencialmente Anticristo e porque ensinada por Jesus, o Príncipe da Paz.

Por outro lado, minha Assembléia de Deus não toma partido ao lado do patrão, porque o empregado é tão responsável e digno porque, muitas vezes perpetram iniqüidade e ofendem ao próximo e ao próprio Deus, com suas atitudes arbitrárias, cruéis e injustas.

Minha Assembléia de Deus é ensinada a buscar com insistência os dons espirituais, a manter-se no altar, a glorificar a Deus, não maquinalmente, mas como expressão de perfeita comunhão e verdadeiro quebrantamento; ao fugir do mal e da aparência do mal; a identificar e rejeitar as modas e modelos atentatórios à moral e ao bom senso, porque muitas vezes nascidos das impuras mãos de afeminados e de meretrizes e/ou das cúpidas mãos do condenável consumismo. 

Minha Assembléia de Deus combate frontalmente o uso de ritmos musicais inadequados ao ofício do culto, e jamais colocou em primeiro plano os cânticos, em detrimento dos testemunhos dos crentes e da pregação da Palavra de Deus. Minha Assembléia de Deus acolhe com honra a visita de personalidades, mas não superestima a presença, não coloca quem quer que seja como centro do culto, porque, para ela isto constitui usurpação da glória que se deve reservar somente ao Senhor.

Minha Assembléia de Deus não admite o menor movimento nos momentos de oração no templo (quando falamos com Deus), nem as conversações que confundem a igreja com clubes e feiras-livres.

Minha Assembléia de Deus estimula os crentes à leitura, além da Bíblia, de bons livros, revistas e jornais (não aqueles sensacionalistas, especializados em trombetear sobre os crimes e em promover delinqüentes), porque não podemos viver desinformados e ignorantes do que acontece ao nosso redor.

Em minha Assembléia de Deus os neófitos, com sua inexperiência e imaturidade, não tomam o lugar dos que falam com conhecimento das coisas de Deus e com a seriedade que se exige de um verdadeiro embaixador de Cristo.

Minha Assembléia de Deus, pelo temor que tem do Senhor, não acaricia os pecados dos seus maiores contribuintes, “Nem dos seus ilustres”, mas ama a todos com igual amor e a todo a trata com paciência até os limites do biblicamente admissível; e quando convoca alguém a comparecer perante o ministério, não costuma preocupar-se com a situação financeira nem a posição social do acusado.

Para minha Assembléia de Deus, os filhos do pastor e os filhos da mais apagada das famílias da igreja têm os mesmos deveres de santidade e obediência e as mesmas oportunidades, dependendo tudo do seu comportamento perante a sociedade e da dedicação à obra de Deus.

Reitero que, não obstante todos estes cuidados, minha igreja não é perfeita. Nem de longe! Ela é continuamente incomodada pelas falhas inevitáveis em uma instituição constituídas por homens. Mas ela é ensinada, noite, e dia, aproximar-se do padrão estabelecido pela Bíblia, do modelo que o Espírito Santo dita ao coração do crente, e a não apedrejar os exemplos indignos, mas a deles fugir com temor e tremor, a fim de que, no Grande Dia, não seja rejeitada por Jesus.

Talvez me fosse escusado descer a tais minudências, mas, por via das dúvidas, fique bem claro que o pronome tantas vezes aqui repetido não é possessivo, é tão só a expressão do grande amor que tenho pela minha igreja.

(Joanyr de Oliveira, Edições CPAD, publicado em março de 1994).