Muito se fala de autoridade ou cobertura espiritual, referindo-se ao pastor presidente (em algumas igrejas: bispo, apóstolo, missionário, etc.) como quem tendo o poder de abençoar ou amaldiçoar as pessoas. A obediência a esses líderes deve ser sem questionamento, pois são “homens de Deus”, sendo “usados” por Deus para fazer a “vontade” de Deus na terra (bem, não vamos exagerar tanto, na igreja ou no ministério ao qual ele serve). É evidente que o poder de abençoar ou amaldiçoar alguém pertence ao próprio Deus: “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem” (Gn 12.3). Nenhum homem pode se colocar no lugar de Deus e requerer para si as prerrogativas divinas, ou mesmo dizer que está autorizado por Deus a fazer algo que não tem fundamento bíblico. É evidente também que há verdadeiros homens de Deus, que são realmente usados por Deus e que fazem a vontade de Deus.
Dito isto, vamos a pergunta da postagem. Devo dizer que o cristão é uma pessoa livre. E como seres livres podemos exercer a nossa liberdade em Cristo, respeitando, evidentemente, os limites impostos pela própria Palavra de Deus. Ninguém pode ou deve tolher a liberdade de um cristão e isto inclui a liberdade de expressão. Devo dizer também que a igreja é uma comunidade de pessoas que foram chamadas para servir ao Deus vivo e verdadeiro. É a “universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb 12.23). E numa comunidade, creio que a participação de cada membro é importante. Todos podem e devem participar ativamente das atividades de suas igrejas. Isto posto, o pastor ou líder dessa comunidade, como escolhido de Deus, deve liderar com moderação e amor, sabendo que está prestando um serviço ao Reino de Deus. Ele não é o dono da igreja, nem tampouco dos crentes. O pastor ou líder é um ser humano como qualquer outro. Nenhum líder é um super-homem! Nenhum líder é infalível! (até o Papa que dizem que é infalível, é falível). Liderar não é fácil e nem todos acertam nas tomadas de decisão. Assim, se um crente discordar de seu líder em algum ponto, estará exercendo um direito que lhe pertence. Veja bem, estou falando de discordar e não de desrespeitar, que é totalmente diferente. As igrejas que eu liderei (foram somente duas ao todo) sempre dei total liberdade aos crentes para discordarem de minhas decisões, pois podia acontecer de eles verem ou perceberem algo que eu não estava vendo ou percebendo. E devo dizer, que foi uma bênção! Sempre fui respeitado e quando alguém discodava de mim, o fazia com respeito, ponderação e moderação. Isso é característico dos verdadeiros cristãos. Portanto, não é pecado discordar de seu líder!
A pergunta desta postagem se torna relevante porque há igrejas em que o líder se ponhe como o senhor absoluto da verdade e não aceita que ninguém contradiga o que ele diz ou faz. Ele é o “ungido” de Deus naquele lugar, e quem o contradiz estará contradizendo o próprio Deus. Evidentemente que isso é um absurdo! É por isso que alguns crentes fazem a pergunta em questão. Na verdade o que falta nesses líderes que agem assim é humildade. Ou quem sabe são pessoas inseguras de si mesmas! Seja qual for o caso, os crentes não são obrigados a engulirem tudo o que lhes dão. Podem dizer não, sem medo de estarem pecando contra Deus. É claro que isso não se aplica às verdades bíblicas. Quanto à Bíblia, o crente é obrigado a obedecê-la, sem questionamentos (desde que interpretada corretamente, e não ao bel-prazer de quem quer que seja).
Assim, todos podem exercer sua liberdade em Cristo, até mesmo a liberdade de discordar!
Desde os primeiros tempos, a Igreja se depara com aquilo que talvez poderíamos chamar de sacerdotização do ministério. Os cargos e as roupas tornam-se máscaras que muitas vezes encobrem a humanidade de quem se utiliza de uma determinada posição. É algo que não aprovo, mas quando olho pra mim ainda vejo traços de autoritarismo no meu comportamento. Para lidar com essas inseguranças nada melhor do que aumentar a confiança em Deus, crendo que a obra e a Igreja pertencem a Ele.